Filme estranho com gente esquisita

Um relato sobre a primeira turma do Curso de Cinema para Jovens Realizadores do Croqui Estúdio

Em setembro do ano passado, motivados pelo desejo de compartilhar e trocar conhecimento sobre arte contemporânea e cinema, eu e a Bia inauguramos o Croqui Estúdio. O início foi meio que na correria pois queríamos aproveitar o semestre para propôr algumas atividades educativas antes das festividades de final de ano.

Dentre os cursos e oficinas que inauguramos, destaco a primeira turma do curso de Cinema para Jovens Realizadores. A proposta era formar um grupo de meia dúzia de pessoas em idade de início de carreira para apresentar um panorama geral sobre o que é feito em Cinema no Rio Grande do Norte e quais as possibilidades para se realizar filmes independentes de baixo custo. A turma veio variada, apareceu gente de teatro, gente de jornalismo, uma galera boa.

Sempre que realizo cinema independente gosto de vender o conceito de que o Cinema que é feito na esquina do Nordeste (Natal, João Pessoa, Fortaleza, entre outras cidades deste cantinho de cá) tem se mostrado cada vez mais propenso a se expressar através de filmes estranhos: surrealismo, horror e doideira parecem reinar no imaginário da juventude realizadora de cinema local.

Isso se dá por diversos motivos, mas é muito importante entender essa propensão ao cinema de gênero como um tipo de cinema ideal de se fazer nas bandas de cá, no contexto local, assim como faziam os italianos e os estadunidenses na década de 60/70, tentando produzir material muito autoral sobre suas próprias realidades com quase nenhum dinheiro no bolso.

Partindo das atividades propostas no curso, o grupo composto por sete jovens elaborou um roteiro coletivo, um curta-metragem intitulado “A Caixa” (este pode ou não ser o título provisório do projeto). É a história de um casal, Agatha e Allana, que tem uma noite tranquila de jogos de tabuleiro interrompida pela entrega misteriosa de uma caixa na porta de casa. A caixa vem com uma informação (“Para A.“) e uma regra (“Não abra!”) e isso é suficiente para desencadear o mais puro caos entre as duas amantes. O filme se desenrola para um final completamente inesperado e é cheio de umas ousadias que dariam muito orgulho ao Sam Raimi novinho.

Apesar de intenso, o set de filmagem foi menos caótico do que eu estava esperando para um grupo de jovens com pouca vivência acumulada neste tipo de ambiente. Isso se deve à experiência prévia de alguns, a empolgação e plena dedicação de todos. Foram duas madrugadas violentas, uma experiência incrível e (espero que) inesquecível da qual eu mesmo tenho muito poucas fotos (pois, como disse, foi intenso e não deu tempo de muita coisa além de botar a mão na massa). Mas vou deixar algum material a seguir, para ilustrar, e sigo com os agradecimentos.

Agradeço imensamente aos membros da turma: Alex, Alexandre, Eduardo, Jesulei, Johnny, Iza e Kyara pelo belíssimo trabalho. Vocês fizeram um ótimo trabalho e eu espero que tenham se divertido, isso é o mais importante. Agradeço também o apoio dos que chegaram junto no projeto de diversas formas: principalmente à Beatriz que está comigo no Croqui Estúdio e em todos os outros projetos da vida; a Eduarda que fez a maquiagem e aguentou acompanhar o perrengue até o fim; ao Raul que no primeiro dia de filmagem salvou muito com equipamentos e cartões de memória; ao Vitor por ceder a belíssima casa que serviu de locação, além da paciência em aguentar um monte de gente se esguelando e fazendo bagunça até o amanhecer; a Ana Lívia que chegou no último dia só pra ver como era e acabou assinando um contrato e fazendo uma ponta no filme.

Aproveito o espaço para divulgar que já estão abertas as inscrições para uma segunda turma do Curso de Cinema para Jovens Realizadores do Croqui Estúdio. Se você se interessa em fazer filmes e tem menos de 30 anos de idade, clica NESTE LINK para mais informações e inscrições. As aulas acontecem a partir de abril e são apenas 6 vagas.