[Diário Crítico] Divinos, mas humanos e reais

Crítica do filme Dois Papas (publicada originalmente em junho de 2020)

Crítica do filme

O filme Dois Papas (2019) conta a história do último processo de sucessão do papado da Igreja Católica que pegou o mundo de surpresa na época em que o Papa Bento XVI (nascido Joseph Aloisius Ratzinger) renunciou de sua posição máxima na hierarquia da Igreja Católica (fato que não ocorria desde o ano 1415), dando lugar ao cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. Para os que viveram o momento histórico sempre esteve claro que esta transição de liderança se refletiu na popularidade da figura do Papa. O antes conservador e ranzinza Bento XVI dera lugar ao carismático e ousado Papa Chico, primeiro Papa latino-americano. Mas esta é uma visão reducionista que o roteiro assinado por Anthony McCarten dilui muito bem. O roteirista é nome de peso das adaptações biográficas, sendo autor dos roteiros de filmes como A Teoria de Tudo, O Destino de uma Nação e Bohemian Rapsody.

Apesar desta aparente polarização de carisma entre as duas figuras, o filme nos mostra dois religiosos que se respeitam mesmo com suas diferenças. As atuações dos protagonistas nas cenas em que atuam juntos tenta nos apresentar perspectivas mais humanas sobre dois homens que assumiram a posição mais divina da principal instituição cristã do planeta. São homens com passado, anseios, memórias e vivências repletas de dor, dúvidas e devoção.

Anthony Hopkins e Jonathan Pryce interpretam os papas Bento XVI e Francisco

Se por um lado, Ratzinger é visto como um típico alemão frio e insensível, por outro a performance de Anthony Hopkins o desvela como um idoso que tem dificuldades para entender o mundo atual, sua responsabilidade como pontífice e até mesmo as raízes de sua própria fé. Enquanto isso, através da boa performance de Jonathan Pryce, somos apresentados a um cardeal Bergoglio carismático e desenrolado, mas que enxerga seu passado sombrio como uma pedra que o impede de assumir a grande responsabilidade que se revela no horizonte. Diálogos ora bem-humorados, ora filosóficos, mas sempre dinâmicos, nos fazem perceber a dissolução do divino e uma homenagem a humanidade de cada personagem.

A direção é do brasileiro Fernando Meirelles e a Fotografia é do também brasileiro César Charlone, ambos reconhecidos por suas principais parcerias em Cidade de DeusEnsaio Sobre a Cegueira e O Jardineiro Fiel. Com um toque de estilo e assinatura característica de suas filmografias, os dois são responsáveis por pontos altos do filme: a câmera inquieta e a fotografia crua que mesclam a sensação de ficção com documentário; e algumas sequências de flashbacks em preto-e-branco que dão ao filme momentos de elegância precisa de cinema clássico.

Ilustração

A cena escolhida me pareceu apropriada. Toda a indicação de leitura da esquerda para a direita sugere a ideia de sucessão, assim como o ato de cochichar no ouvido, como que o Papa de branco passasse um segredo para seu substituto. Segredo é uma palavra-chave quando se fala da instituição católica. E há também a sugestão de riqueza proposta pelo sofá adornado à esquerda do Papa de branco em contraponto com o vazio à direita do cardeal, indicando humildade.

Sendo esta a primeira imagem da série a que se pretende o projeto Diário Crítico, ela é também um experimento de estilo. A ideia é que todas as próximas ilustrações sigam esta estrutura monocromática e simples.


Esta postagem é uma republicação. O texto foi originalmente publicado no blog Diário Crítico hospedado na plataforma Medium em 2 de junho de 2020.

Dez Maneiras de Morrer, uma coletânea da editora Draco

Um escrito sobre minha participação na nova coletânea da editora Draco organizada pelo Raphael Fernandes

Em agosto do ano passado participei do Festival Internacional de Quadrinhos em Belo Horizonte. Foi uma viagem de algumas semanas, passei um tempo na casa da minha mãe, em Duque de Caxias/RJ e depois peguei estrada com meu irmão para Beagá. Como pular em Minas Gerais têm sido um evento raro nos últimos anos, aproveitei para encher minha agenda por lá: gravei um episódio da minissérie Sombras da Alma durante duas noites, participei de um Duelo de HQs no meio da programação do FIQ e me inscrevi para a Rodada de Negócios promovida pelo Sebrae/MG.

Na rodada de negócios, dentre as muitas editoras que tive a oportunidade de me reunir, pude trocar uma ideia com o Raphael Fernandes da Draco que me deu ótimas dicas sobre formas interessantes de aproveitar as ideias que levei e enriquecer minhas ilustrações com o que há de melhor no meu trabalho. Foi uma conversa breve e interesse que se prolongou por toda a semana do FIQ, dada a coincidência de que eu e o Raphael fomos sorteados como vizinhos nas mesas de exposição ao lado de grandes nomes como a Milena Azevedo (que escreveu Pepengusa) e o Mario Cau (que Ilustrou o belíssimo Anne de Green Gables). Foi meu primeiro FIQ e logo percebi a energia do lugar: uma ambiente muito positivo, todo mundo legitimamente feliz com os encontros e mil parcerias novas surgindo a cada corredor (e boteco… sim, a maioria das reuniões de trabalho se prolongavam aos botecos).

Uma dessas parcerias herdeiras do FIQ foi minha breve participação na nova coletânea da Editora Draco. Um mês depois que voltei a Natal, recebi o convite do Raphael: ele estava concluindo uma turma do curso de roteiro para quadrinhos da Escola de Dragões e os participantes estavam montando esta coletânea com dez histórias sobre morte e maneiras de morrer. Diferente da clássica e divertida animação Dumb Ways to Die, este livro conta com histórias onde as maneiras de morrer não são burras, mas completamente inesperadas e cabulosas.

A belíssima e sombria coletânea, finalmente em minhas mãos

Tive a honra e o prazer de ilustrar o conto Eu pedi numa oração escrito pela Carolina Rubira, a história final de Cândido, um rapaz do interior que quer muito se casar. Superticioso e religioso, a estratégia do jovem envolve comprar um monte de fatias de bolo de Santo Antônio pois diz a crendice que quem encontra uma medalhinha de Santo Antônio no bolo, terá sorte grande no amor. Acontece que o rapaz tem sorte até demais e nas histórias deste livro, meus caros, a sorte e a Morte não perdoam.

Seguem algumas páginas com amostras da ilustração:

Dez maneiras de morrer está entre os lançamentos mais recentes da editora e você pode adquiri-la na loja virtual da Draco. Clique aqui para acessar.

[Galeria] Um quarto assombrado e uma parceria improvável

Um escrito e algumas fotos sobre como ficamos presos em um quarto macabro e acabamos fazendo um filme de terror por lá.

Em janeiro deste ano minha prima me convidou para conhecer um novo estabelecimento da cidade: o Escaping Natal é um daqueles lugares do tipo Escape Room onde você paga para ficar preso num quarto e precisa resolver mistérios e quebra-cabeças para sair de lá antes que o tempo acabe. Claro que ninguém fica preso de verdade, é tudo uma brincadeira, mas confesso que a gente só faltou morrer de ansiedade quando conseguimos resolver todos os desafios faltando apenas alguns segundos para o fim da contagem regressiva. O lugar tem muitas salas com muitos puzzles para se resolver e o que a gente jogou neste dia foi o “Quarto de Any”, um mistério sobre uma menina presa num quarto macabro. Eis uma foto que tiramos no final:

Da esq. para a dir.: Yuki e Dan, Eu e Bia, Sil e Neto.

O que a gente não sabia era que aquela brincadeira ia resultar numa parceria completamente inesperada. Conversando com o Tamil (o proprietário da sala de jogos, um cara empolgado e solícito), expliquei a ele que trabalhamos com Cinema e que aquele espaço completamente sombrio e perfeitamente decorado onde ocorrem os jogos, poderia ser o cenário perfeito para a filmagem de uma cena que estamos gravando para um curta-metragem. Ele curtiu muito a ideia.

O curta em questão é o Par de Olhos, um filme que eu e a Beatriz planejamos juntos há bastante tempo e uma equipe inteira de gente muito competente chegou para ajudar. As primeiras filmagens aconteceram em novembro. Sem querer expôr muito da história, o filme conta sobre uma jovem… presa numa casa assombrada… descobrindo mistérios e abrindo portas… enfim, os clichês que a gente mais gosta e tudo a ver com aquele ambiente que descobrimos.

Pois bem, com algumas organizações e muito planejamento, conseguimos filmar esta cena completamente cabulosa dentro do Quarto de Any. Segue uma galeria com algumas fotos das filmagens da Cena 9 do filme Par de Olhos, que aconteceram no Escaping Natal na última semana de março.

Fiquem também com este vídeo, um pequeno trecho sem edição de um material que gravamos neste dia:

Acompanhem mais novidades sobre o filme Par de Olhos no instagram da Nuvim 7D e da Nav Filmes. Sigam também a galera do Escaping Natal e vão por mim: se você mora em Natal/RN e ainda não foi lá jogar e desvendar mistérios, você tá perdendo tempo.